terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Vento


Eu vento palavras num caderno de mentira que é meu coração em conflito.
Eu conflito verbos de manhã que é pro mundo girar melhor do lado de fora.

Pra me aquecer de um calor frasal eu me reverbero de noite trajando versos nus
e me deito de tarde numa imagem rasteira de céu com cheiro de livro novo.

Moro na Rua Bobagem.
Casa boba sem jardim numa vila amarela e mariposa.
(Nessa rua tem sempre um diplomado em razão que instrui pessoas de brinquedo numa praça.
Segundo ele e todo seu prestígio acadêmico, não existe essa história de ventar palavras e muito menos isso de o mundo girar melhor do lado de fora.)

Ele me tem como um idiota varrido.

Mas Deus me abençoou varrendo de mim a razão e me fazendo enxergar que esperança que se molha de azul vira flor, vira poema.

E essa bênção veio com água, pomba, língua, fogo e estrofes.

Tem vento demais no azul de Deus.

Tem brisa sagrada e uma bíblia de rio na estante arborizada e empoeirada da minha existência.

Quando me afasto de mim posso pegar com as mãos a tarde.

Que Deus tenha misericórdia da minha inconstância e do meu desvario verbal.
Pois tenho a fraqueza de me excitar com a fornicação das palavras e o gozo do cruzamento de girassóis com horizontes e inocências com borboletas.

E mergulhado nessa promiscuidade letral, rezo a Deus pra que eu seja condenado às profundezas do poema em ventania ou ao purgatório desacostumado das palavras sem gramática.

Nenhum comentário:

Postar um comentário